Diabetes Gestacional: tudo o que você precisa saber
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Revisado porIdealizadora da Famivita
Dentre as patologias que tornam uma gestação como sendo de alto risco, o diabetes mellitus gestacional (DMG) é uma das mais comuns às mães brasileiras. Muitas pessoas acreditam que ele tem sua causa exclusivamente no estilo de vida da mãe, mas isso não é necessariamente verdade.
Apesar de poder ser influenciado pelos hábitos do dia a dia, o diabetes mellitus gestacional (DMG) é um distúrbio metabólico que faz com que a mãe tenha resistência à insulina, desencadeando uma série de eventos que podem atingir tanto a parte materna quanto o bebê.
Quer entender como surge o diabetes, seus riscos, possíveis consequências e como controlá-lo? Então siga nosso artigo até o fim, pois ele contém tudo o que é necessário saber sobre esse tema tão importante para garantir uma gestação e parto seguros e tranquilos.
Entendendo o diabetes
Resistência à insulina e gestação
Diabetes gestacional e os fatores de risco e prevenção
Diagnóstico
Controle, tratamento e cuidados
Riscos, consequências e interrupção da gestação
Pós-parto e puerpério
Antes de adentrarmos nos detalhes do mundo do diabetes mellitus gestacional, vamos falar sobre essa enfermidade de maneira geral, principalmente por ser uma patologia que a cada ano atinge mais pessoas, não só no Brasil, como no mundo.
A primeira coisa que precisamos compreender é como funciona o transporte de açúcar no sangue e conhecer sobre um agente muito importante desse processo: a insulina. A partir daí conseguiremos assimilar de que forma o diabetes surge e por que o excesso de “açúcar” no sangue é um problema.
A insulina é um hormônio muito importante para o funcionamento e equilíbrio do nosso organismo. É produzida pelo pâncreas quando nos alimentamos. Ao comermos, nosso corpo realiza o processo de digestão, onde os alimentos consumidos são transformados nas diferentes substâncias que precisamos.
Os carboidratos (pão, massa, arroz, batata, entre outros) que consumimos são transformados em açúcar. Este, é transportado pela insulina para dentro das células. Nelas, essas moléculas serão, então, modificadas em energia (ATP), a ser posteriormente utilizada.
Mas, então, como se manifesta o diabetes na prática? Ele é causado pela falta ou má absorção de insulina, resultando no aumento nos níveis de glicose no sangue e desequilíbrio dos sistemas de geração de energia do nosso corpo. Quando não tratado e controlado, possui inúmeras consequências para a saúde do portador, podendo inclusive levar à necrose de partes do corpo, internações hospitalares e até mesmo a morte.
Existem diferentes tipos de diabetes, cada um com características próprias:
- Pré-Diabetes – O nível de glicose no sangue está elevado, mas não o suficiente para ser considerado diabetes;
- Diabetes tipo 1 – O pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. A instalação da doença ocorre mais na infância e adolescência e exige a aplicação de injeções diárias de insulina;
- Diabetes tipo 2 – As células são resistentes à ação da insulina. A incidência da doença, em geral, acomete as pessoas depois dos 40 anos;
- Diabetes Gestacional – Mulher sem diagnóstico anterior de DM, que a desenvolve durante a gestação, normalmente em decorrência de desregulagens hormonais causadas pela placenta.
Caso deseje obter mais informações sobre o tratamento do Diabetes Mellitus na gestação, acesse a cartilha aqui.
A resistência à insulina é uma condição crônica que faz com que o corpo não produza, ou não utilize insulina na quantidade adequada para suprir suas necessidades. Infelizmente, não existe uma cura, apenas a possibilidade de controle. A resistência à insulina pode ocorrer de três formas diferentes:
- Produz menos do que precisa: ao nos alimentarmos, o corpo não gera insulina suficiente no sangue para levar a glicose até as células e a glicemia fica elevada;
- Produz mais do que precisa: ao nos alimentarmos, o corpo desenvolve mais insulina do que deveria, por isso a glicemia fica baixa;
- Produz a quantidade de insulina adequada, mas por algum motivo o corpo não a utiliza completamente e a glicemia (quantidade de açúcar presente no sangue) fica mais alta do que deveria.
Entre as principais causas da resistência à insulina estão a obesidade, a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), a idade avançada, uso de medicamentos utilizados para impedir a multiplicação do HIV no organismo (os chamados “antirretrovirais”), uso incorreto de insulina exógena (aquela feita em laboratório e aplicada para reposição da substância no organismo) e consumo excessivo de sódio.
Já quando se refere aos sintomas da resistência à insulina, temos, por exemplo:
- fome constante;
- desejo de alimentos ricos em carboidrato e açúcar;
- cansaço contínuo;
- bem como ganho de peso e acúmulo de gordura.
E como acontece a resistência à insulina na gestação? Bom, sabemos que a gravidez é um momento de intensa mudança metabólica, ou seja, todo o funcionamento do corpo se modifica para cumprir a difícil missão de gestar um bebê. E, uma das alterações que ocorrem, é justamente relativa à ação da insulina.
O bebê recebe toda nutrição da mãe pelo cordão umbilical e placenta. No primeiro trimestre, o feto usa a glicose materna, ou seja, o açúcar gerado pela alimentação da mãe é dividido entre ela e o bebê. Para garantir que tanto a mãe, quanto o bebê, recebam o suficiente, a mulher desenvolve um certo nível de resistência à insulina, gerando, inclusive, uma tendência de hipoglicemia (pouco açúcar no sangue) e diminuição da necessidade de insulina por parte da mãe.
No terceiro trimestre, a mãe terá uma redução aproximada de 50% na sensibilidade à insulina. Para equilibrar essa resistência, o momento da gravidez é caracterizado pelo nível elevado de insulina circulante, visto que o pâncreas (em mulheres não-diabéticas) compensa a demanda aumentada, mantendo as glicemias em níveis normais.
O diabetes mellitus gestacional, como qualquer grande complicação na gravidez, é algo preocupante. Entre alguns dos problemas originados por ele está a macrossomia fetal, que é um peso ao nascer entre 4.000 e 4.500 g.
Isso acontece porque a glicose passa em maior quantidade ao feto. Como consequência, ele desenvolve hiperglicemia (ou seja, os níveis de açúcar no sangue se elevam) e, por ter um pâncreas normal, o feto passa a ter uma resistência aumentada à insulina. Isso estimula o crescimento fetal e, desse modo, a glicose aumentada é armazenada como gordura no feto, causando um aumento do seu acúmulo.
Tal fato pode trazer perigos, tendo como consequência, por exemplo, a chamada “distocia de ombro”, que é a ocorrência de anormalidades de tamanho ou posição do feto, resultando em dificuldades no parto (trazendo lesões em decorrência do trabalho de parto ou mesmo a intervenção cesariana).
Outro prejuízo que pode ser causado é o atraso na produção do surfactante pulmonar. O surfactante é produzido ao longo do amadurecimento dos pulmões do bebê, no útero materno, após cerca de 28 semanas. Caso haja esse retardo em sua produção, pode se instalar a Síndrome do Desconforto Respiratório Infantil (que acomete inclusive recém-nascidos prematuros, nascidos antes desse período).
Por outro lado, a hiperglicemia no meio intrauterino aumenta o risco de malformações e de desvios do crescimento fetal. Vale lembrar que tais alterações no crescimento do feto e em sua constituição corporal dependem diretamente do controle glicêmico materno, pois têm relação estreita com os níveis de insulina fetal, refletindo o excesso de glicose que passa pela placenta.
Nesse sentido, a prevenção de ocorrências problemáticas (tanto envolvendo o diabetes mellitus pré-gestacional, como o diabetes mellitus gestacional) pode ser feita através de um exame conhecido como “ecocardiograma fetal”. Ele é um ultrassom semelhante aos outros realizados durante a gestação, no período do pré-natal, com a diferença de que é conduzido por um médico especialista em cardiologia fetal e cardiologia pediátrica.
Por meio de registros dos músculos e válvulas cardíacas, o exame mostra o tamanho e o desenvolvimento do coração do feto. Desse modo, é avaliada a saúde do bebê, relativa a esse órgão, ainda no útero materno.
Vale ressaltar que na presença do diabetes mellitus gestacional, é comum que haja, por exemplo, a miocardiopatia hipertrófica fetal (atingindo cifras de 54% antes do início do tratamento). Essa doença causa o aumento da espessura do músculo cardíaco, deixando-o mais rígido e com maior dificuldade de bombear o sangue. Na maioria das situações, a miocardiopatia hipertrófica não está associada a repercussões clínicas, mas há relatos de associação com disfunção cardíaca. Confira a seguir outros fatores de prevenção e risco:
- Idade maior que 25 anos;
- Sobrepeso/obesidade;
- Antecedentes familiares de diabetes mellitus – DM (primeiro grau);
- Antecedentes pessoais de alterações metabólicas;
- Antecedentes Obstétricos (por exemplo, duas ou mais perdas gestacionais prévias; malformação fetal, etc.)
O diagnóstico de diabetes gestacional ocorre durante o acompanhamento pré-natal e, por esse motivo, é muito importante que ele seja iniciado assim que a gestação for descoberta. Vale lembrar, além disso, que o pré-natal deve ser mantido até o nascimento do bebê.
Um acompanhamento pré-natal bem feito salva vidas, então participe ativamente dele. Também busque sempre se manter informada sobre os procedimentos e exames que devem ser solicitados e realizados.
O diagnóstico de DMG é efetuado por exames laboratoriais que devem ser repetidos uma vez a cada trimestre. É frequente as mulheres descobrirem que possuem diabetes na gestação, isso acontece porque esse é um momento em se presta mais atenção à saúde e em que são efetuados mais exames do que de costume.
Um desses exames é o Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG). Também conhecido como curva glicêmica, ele é o melhor exame para o diagnóstico da DMG e deve ser realizado preferencialmente entre 24 e 28 semanas, podendo ser repetido a qualquer momento.
O objetivo do TOTG é analisar o comportamento da glicemia da mulher em três momentos diferentes, após o consumo de 75g de glicose líquida. Para isso, são coletadas três amostras de sangue, uma em jejum, outra 1 hora depois, e mais uma 2 horas depois da ingestão dessa glicose.
Uma dica interessante é verificar se existe a possibilidade de o laboratório oferecer a glicose fria. Isso porque, por ser um líquido muito doce, é normal que gestantes sintam enjoo, ou mesmo vomitem. Beber a glicose em baixa temperatura torna a experiência um pouco mais tolerável.
Após o diagnóstico do diabetes mellitus gestacional, é necessário iniciar o tratamento imediatamente, de modo a garantir que ele se mantenha controlado e não afete de maneira significativa o bebê. Diferentemente de inúmeras patologias, o controle do diabetes gestacional depende muito da mãe e isso é algo bastante positivo, se considerarmos que não há a necessidade da ajuda de outras pessoas, apenas do cuidado materno referente a essa questão.
Realizar um controle adequado da glicemia aumenta as chances de o desfecho da sua gestação ser um bebê vivo, no termo, com crescimento proporcional e sem problemas respiratórios e metabólicos.
O tratamento da DMG é normalmente feito com mudanças no estilo de vida e não exige o uso de nenhum tipo de medicamento, contudo, em casos mais severos, a utilização de insulina ou metformina poderá ser necessária.
Com relação ao tratamento sem medicamentos, é interessante ressaltar que embora pareça fácil, mudar os hábitos diários não é algo simples – exige modificações na rotina e muitas vezes traz custos extras que nem todas as pessoas podem arcar. Apesar dessas dificuldades, a gestante com DMG precisa se esforçar para que essas alterações sejam implementadas, pois as consequências de um DMG desregulado podem acompanhar a mãe e o bebê pelo resto da vida.
Nesse contexto, deve-se buscar o controle da alimentação, elegendo uma dieta baseada em alimentos in natura ou minimamente processados. Outro fator essencial diz respeito à atividade física, pois tal prática ajuda muito na redução dos níveis de glicose no sangue. O ideal seria fazer caminhadas, alongamentos e, se possível, exercícios em água por 20 a 30 minutos, diariamente.
Medir e anotar a glicemia, após cada uma das refeições, é outra ferramenta fundamental. Há outros elementos, igualmente, aos quais é importante prestar atenção. As avaliações clínicas gerais, por exemplo, quando se faz a análise do peso e a aferição da pressão arterial (PA), bem como todas as medidas pertinentes à avaliação de consulta pré-natal, são de grande valia nessa fase. Mais alguns fatores que ajudam na prevenção e podem ser acrescentados à lista são:
- Avaliação fetal: recomenda-se a realização de ultrassom precoce, no primeiro trimestre, ao redor de 12 semanas, para confirmação da idade gestacional e avaliação de marcadores de risco para anomalias congênitas (alterações estruturais ou funcionais ocorridas durante a vida intrauterina e que podem ser detectadas antes, durante ou após o nascimento). Recomenda-se, ainda, um ultrassom de segundo trimestre, para a avaliação morfológica (que é onde se observa as estruturas do feto, como a cabeça, pescoço, coluna vertebral, tórax, abdome, genitália externa e extremidades), e mensal, no terceiro trimestre, para avaliar o crescimento fetal.
- Contagem de movimentos fetais: também está indicada para todas as gestações e deve ser diária a partir da 28ª semana e realizada por uma hora, após as principais refeições (três vezes ao dia). A gestante deverá procurar assistência obstétrica se houver redução de 50% do total de movimentos fetais, observados no mesmo período do dia anterior.
O diabetes mellitus gestacional traz uma série de riscos a curto e longo prazo, para a mãe, mas principalmente para o bebê. No primeiro caso existe, por exemplo, 20% de chance da mãe tornar-se intolerante à glicose e desenvolver DM tipo 2. Já em relação aos riscos para o bebê, podemos citar alguns:
- Macrossomia;
- GIG (quando o recém-nascido é grande para idade gestacional);
- Óbito por choque metabólico ainda no útero;
- Prematuridade;
- Hipoglicemia pós-parto;
- Diabetes na vida adulta;
- Obesidade;
- Doenças cardiovasculares.
Com relação à interrupção gestacional, recomenda-se que a gestação não ultrapasse as 40 semanas, pelo maior risco de óbito fetal e paralisia cerebral após essa idade gestacional. Portanto, pode-se considerar a resolução programada da gestação, segundo o risco gestacional envolvido e resultante dessas complicações.
Na maioria das mulheres que desenvolveram DMG, ainda que a tolerância à glicose se normalize rapidamente após o parto, o risco de desenvolvimento do diabetes mellitus do tipo 2 ou intolerância à glicose é significativo.
Para o desenvolvimento de DM do tipo 2 em mulheres com diabetes mellitus gestacional prévio, são considerados fatores de risco:
- Glicemia em jejum na gestação acima de 100 mg/dL;
- Etnia não branca;
- História familiar de diabetes tipo 2, principalmente materna;
- Ganho excessivo de peso durante ou após a gestação;
- Obesidade;
- Obesidade abdominal.
Importante enfatizar que nesses casos ocorre uma maior prevalência de sangramentos, formação de hematomas, seromas (complicação pós-cirúrgica que consiste no acúmulo excessivo de líquido próximo à cicatriz cirúrgica, causando inflamação) e deficiências de suturas.
A amamentação precoce em livre demanda é bastante recomendada e deve ser estimulada a sua manutenção por pelo menos seis meses. Após o parto cesáreo, indicam-se, ainda, uso de meias elásticas, deambulação precoce (ou seja, o ato de caminhar até o terceiro dia de internação na UTI) e outras medidas preventivas em relação à trombose.
Por fim, a consulta de revisão pós-parto deve ser programada, tendo como objetivos a adequação de peso, a avaliação e o acompanhamento de comorbidades. Outro foco fundamental está no espaçamento das gestações mediante o uso de contracepção eficaz.
Agora que você já tem consciência de tudo que faz parte do universo do diabetes e do diabetes mellitus gestacional, a boa notícia é que a partir desse conhecimento, já dá para diminuir ou evitar riscos referentes a essas complicações para a mãe e para o filho, incluindo as consequências no pós-parto. Por isso a informação é tão essencial, não é mesmo?
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Sobre a autora - Patricia Amorim: Mãe de Joana, de Eduardo e de Melissa com um total de 7 anos de experiência em tentativas para engravidar. Ela é a idealizadora da marca Famivita e de um dos maiores portais de maternidade do Brasil, o Trocando Fraldas, que conta mais de 3 milhões usuárias mensais. Seu canal do YouTube possui mais de 250 mil inscritas.