Estudo: Trabalho, Família e Saúde – Um difícil equilíbrio



Abril de 2023, estudo feito pela Famivita com mais de 2.100 participantes entre 12 e 18 de abril de 2023: A pressão por resultados, dentro das empresas, as mudanças tecnológicas e o aumento da concorrência profissional em um mundo cada vez mais globalizado são algumas questões hoje que envolvem o trabalho. Além disso, a busca constante pelo desenvolvimento pessoal e da carreira, as tarefas domésticas e, por vezes, a desigualdade na distribuição delas, bem como a falta de suporte social para o cuidado dos filhos e dos idosos, são elementos que costumam afetar a rotina de trabalhadores e famílias.

Nesse contexto, sobretudo o excesso de trabalho aparece como um fator de desequilíbrio, interferindo no bem-estar e atingindo a própria produtividade no expediente. Como um sintoma da nossa época, nunca se mostrou tão importante a necessidade de conciliação entre as exigências familiares e as profissionais, simplesmente pelo fato de que, quanto mais a pessoa trabalha, menos tempo terá para se dedicar às relações familiares e por consequência poderá ter até mesmo sua saúde atingida.

Especialistas no assunto apontam que todo esse cenário faz com que as pessoas se esgotem física e mentalmente, a ponto de não conseguirem usufruir os filhos, o parceiro e seus interesses íntimos. Assim, todos — homens, mulheres, crianças, empresas — sairiam prejudicados, já que a relação trabalho-família-saúde é interdependente e, por isso,o desempenho em uma dessas esferas repercute diretamente no seu modo de viver as outras. E, pertinente a isso, nosso último estudo revelou que para 27% dos brasileiros e brasileiras, o trabalho dificulta o planejamento familiar e a vida da família.

Seu trabalho dificulta o planejamento familiar ou a vida da sua família?

O trabalho que dignifica

“O trabalho dignifica o homem” – a máxima dita pelo ​sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) atravessou mais de um século sendo repetida pela civilização ocidental. E, de fato, sendo as empresas, antes de tudo, comunidades humanas, é natural que dentro delas se busque não só o trabalho, mas aproximação, companheirismo, respeito.

Interessante destacar que, conforme os historiadores, a ideia de trabalho como fonte de pertencimento e realização, surgiu a partir do Renascimento. Através dessa época, uma outra visão passou a existir, concebendo o trabalho não mais como uma ocupação servil, que escravizava o homem (como assim se pensava na Grécia Antiga), mas que propiciava o desenvolvimento, preenchendo a vida e transformando-se em condição necessária para a liberdade.

A questão é que a modernidade traria no esteio fatores como alto desempenho, rendimento e, mais tarde, as próprias incertezas do capitalismo colaborariam para aumentar o nível de ansiedade dos trabalhadores, refletindo em danos especialmente à saúde mental, como a depressão. Sabe-se, por exemplo, que o estresse ocupacional – um conjunto de perturbações vinculadas diretamente ao ambiente de trabalho – pode ocasionar a Síndrome de Burnout, tendo como resultado a exaustão geral no quadro de saúde do profissional. Em muitos casos, não há escolha: a pessoa precisa ser afastada do local em que exerce suas práticas laborais. E, ainda a respeito disso, nosso estudo revelou que para 32% dos participantes, o trabalho impacta negativamente em sua saúde.

Você considera que seu trabalho impacta negativamente em seu estado de saúde?

  • Especialmente aqueles na faixa etária entre 35 a 39 anos, responderam que o trabalho dificulta em relação ao planejamento e a vida familiar, com 31%.
  • As pessoas com filhos mostraram mais preocupação relacionada a isso, com 30% ressaltando que o trabalho atrapalha, contra 23% daquelas sem filhos.
  • Principalmente na faixa etária entre 30 e 34 anos, responderam que sim, o trabalho afeta a saúde, com 34%.
  • Entre as pessoas que disseram não gostar do trabalho atual, 48% revelaram que o emprego afeta a sua saúde; tal número foi de 27% entre aquelas que afirmaram gostar.
Um equilíbrio delicado

Encontrar a harmonia entre o ofício e a vida familiar, sem que a saúde seja prejudicada, nem sempre é fácil: trata-se, muitas vezes, de uma tarefa quase impossível, especialmente para quem está se consolidando no mercado de trabalho. As exigências dos empregadores, a falta de flexibilidade nos horários e o medo, por parte dos trabalhadores, de represálias que possam culminar na perda do emprego são alguns dos principais motivos que impedem ou dificultam essa conciliação. Desse modo, é prejudicado o tempo e a atenção que seriam dedicados aos mais próximos, o que pode comprometer o próprio equilíbrio mental e físico.

Inclusive, justamente pensando em eliminar o conflito entre esses dois mundos, foi criada em 2005, na Espanha, a certificação “Empresas Familiarmente Responsáveis” (EFR). A iniciativa foi idealizada pela Fundação Másfamilia, uma entidade privada e sem fins lucrativos que, no âmbito da responsabilidade social das organizações, propõe-se a apresentar soluções a questões vinculadas à vida profissional e familiar, bem como o apoio à igualdade de oportunidades e a inclusão de grupos sociais menos favorecidos. Na atualidade, o movimento conta com mais de 600 organizações certificadas em mais de 20 países.

Por outro lado, em 2022, a Sondagem do Mercado de Trabalho – uma publicação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) – apontou que o salário baixo é o principal motivo de insatisfação com o trabalho no Brasil, e ter carteira assinada ou CNPJ é um desejo para a maioria dos informais. A insegurança de um emprego temporário (23,7%) também esteve entre os pontos desfavoráveis mais lembrados. E, em nosso estudo, as pessoas que participaram disseram que atualmente não gostam do seu trabalho, com 25% respondendo negativamente.

  • Um maior descontentamento foi registrado dos 18 aos 24 anos, com 30% respondendo negativamente sobre gostar do trabalho.
  • Entre os participantes que afirmaram não gostar das suas atividades laborais, 39% enfatizaram que o emprego dificulta a vida familiar; tal número foi de 23% entre os que revelaram gostar.
  • Em relação às mulheres tentando engravidar, e grávidas, o nível de insatisfação com o trabalho foi de 17% e 27%, respectivamente.
Índice das brasileiras e brasileiros para quem o trabalho dificulta a vida da família, por estado
Ranking dos estados em que brasileiras e brasileiros destacaram ter a saúde afetada pelo trabalho
  • 1. Roraima
  • 2. Amazonas
  • 3.Distrito Federal
  • 4. Rondônia
  • 5. Rio Grande do Norte
  • 6.Espírito Santo
  • 7. Paraíba
  • 8. Maranhão
  • 9. Mato Grosso do Sul
  • 10.Minas Gerais
  • 11. Amapá
  • 12. Alagoas
  • 13. Paraná
  • 14. Tocantins
  • 15.Goiás
  • 16. Rio de Janeiro
  • 17.Pará
  • 18. Santa Catarina
  • 19. São Paulo
  • 20. Rio Grande do Sul
  • 21. Ceará
  • 22. Mato Grosso
  • 23. Bahia
  • 24. Pernambuco
  • 25. Piauí
  • 26. Sergipe
  • 27.Acre
Método de Pesquisa

O estudo teve abrangência nacional e foi realizado com mais de 2.100 pessoas, entre mulheres e homens, no período entre 12 e 18 de abril de 2023. O método de coleta de dados foi feito por meio de questionário em formulário na internet.

As seguintes questões foram abordadas:

  • Você gosta do seu trabalho?
  • Seu trabalho dificulta o planejamento familiar ou a vida da sua família?
  • Você considera que seu trabalho impacta negativamente em seu estado de saúde?

Para efeitos de comparar os resultados entre regiões e estados, as respostas das perguntas afirmativas foram contabilizadas em números, 1 para “sim” e 0 para “não”. Algumas perguntas, com objetivo de obter resultados mais qualitativos, foram elaboradas com mais opções.