Durante toda a gestação uma das maiores preocupações das mulheres é em relação ao parto. Se será normal, humanizado ou cesariana e como vai ser ou vai sentir durante aquele momento. Mas o que a maioria desconhece é o que acontece com o bebê logo após o nascimento e os procedimentos que eles são submetidos obrigatoriamente em seus primeiros minutos de vida. Um desses procedimentos é a aplicação de nitrato de prata nos olhos do recém-nascido focando a prevenção da conjuntivite, gonocócica e clamídia que pode ser transmitida durante o parto1.

O procedimento se tornou obrigatório no Brasil no ano de 1977 por determinação do Ministério da Saúde após grande surto de cegueira de bebês na época devido à conjuntivite causada pela bactéria da gonorréia2, que era uma doença muito frequente na época. Essa medida reduziu muito o número de bebês afetados e por isso se estendeu o uso até os tempos de hoje e por todo o mundo.

O grande problema é que o uso do nitrato de prata nos olhos do recém-nascido pode causar conjuntivite química, grande irritação nos olhos, além de ser extremamente doloroso, arder os olhos do bebê e ainda manchar sua pele na hora de ser pingado. Aí entra o questionamento! Se a gonorréia não é uma doença tão comum nos tempos de hoje e se é possível detecta-la através de exame durante o pré-natal, por que ainda deixar passar os bebês por esse procedimento tão doloroso? Será mesmo necessário?

Outro ponto muito discutido é em relação à forma de nascimento, pois se o contágio do bebê com a bactéria gonocócica é através do parto vaginal, por que o nitrato de prata é aplicado em bebês também nascidos através da cesariana? E a resposta segundo os pediatras e neonatologistas é que caso ocorra bolsa rota ou rompimento da placenta existe o perigo do bebê se contaminar, mesmo nascendo através de uma cesárea.

O que poucas mães também desconhecem é que podem barrar o uso do colírio de nitrato de prata assinando um termo de responsabilidade na própria maternidade recusando o procedimento e ainda podendo anexar os exames feitos no pré-natal que comprovem a ausência da bactéria que servem como justificativa da suspensão do procedimento.

Usar ou Não o Nitrato de Prata em Recém Nascidos?

Realmente, o procedimento de aplicação de nitrato de prata nos olhos do recém-nascido reduziu significativamente o número de crianças cegas após essa medida e isso é um fato. Porém, segundo alguns especialistas o nitrato de prata não é 100% eficaz no combate das bactérias gonocócicas e da clamídia, já que algumas clamídias tem certa resistência ao nitrato de prata. Já nesses casos é necessário o uso do nitrato de prata ser associado a outros medicamentos para o combate da bactéria.

O uso do nitrato de prata em recém-nascidos pode ainda causar conjuntivite tóxica3 nas primeiras 48 horas de vida e caso não desapareça neste período é considerada uma conjuntivite neonatal. Neste caso, além do recém-nascido a mãe também deve redobrar os cuidados para que não se contamine também. Ao contrário do que acreditam a conjuntivite não se pega pelo ar e sim pelo contato. Por isso, as mãos da mãe devem ser cuidadosamente lavadas após higienizar os olhos do bebê.

Caso o nitrato de prata não seja aplicado logo após o nascimento e o bebê tenha contato com as bactérias e desenvolva a conjuntivite causada pelo gonococo é possível ocorrer cegueira em questão de horas, totalmente e irreversível. Durante o procedimento de aplicação do nitrato de prato em recém-nascidos é possível minimizar os riscos e agressões causadas por ele. O produto pode ser secado com algodão ou gaze logo na sequencia da administração retirando o excesso e não permitindo que a substância se acumule agredindo a pele sensível dos olhos.

Caso tenha dúvidas sobre o procedimento e deseje esclarecer antes do dia do parto, converse com seu obstetra e veja como proceder na maternidade. Se possível realize todos os exames necessários durante o pré-natal para descartar a presença da bactéria e assim apresentar no dia do parto para descartar a utilização do produto, se assim for sua opção.