O aborto espontâneo na maioria das vezes é uma experiência particular. Pouco se fala dele, e muitas mulheres que passam por essa perda se sentem sozinhas e isoladas. Mas a verdade é que esse tipo de acontecimento é muito mais comum do que as pessoas imaginam.

Saber exatamente o quanto isso é comum e quais são os fatores de risco pode não só ajudar a entender por que isso acontece como também a se sentir menos só em um momento tão difícil, de tristeza e frustração.

Abortos espontâneos acontecem com mais frequência do que se fala. Quem passa por esse momento não está só.

Abortos espontâneos são comuns?

Se considerarmos todos os tipos de aborto, eles são uma ocorrência surpreendentemente comum1. Este dado não deve ser lido como um alarme, mas deve servir como forma de conscientização sobre a frequência deste acontecimento.

Tempo de gravidez e aborto espontâneo

Cerca de 70% das concepções, na verdade, resultam em perdas. Um estudo inclusive aponta que cerca de 22% dos óvulos fecundados nem chegam à implantação. Mas muitos médicos especialistas só consideram como um aborto espontâneo se a implantação ocorrer.

Se considerarmos apenas os números após a implantação, cerca de 30% das gestações resultam em abortamento. Mas muitas vezes essas perdas nem são notadas. Uma menstruação atrasada pode ser um aborto espontâneo que nem será percebido, principalmente no primeiro mês de gestação.

A boa notícia é que conforme a idade gestacional avança, as chances de um aborto acontecer caem drasticamente. A partir da 12ª semana, o risco cai para cerca de 4%. Chegando à 20ª semana, a chance fica em cerca de 0.6%.

Influência da Idade da mulher

A idade da mulher é um fator decisivo sobre se uma gravidez vai em frente ou não2. O motivo principal é que a qualidade dos óvulos tende a decair com a idade. Embriões geneticamente inviáveis são a maior causa de abortos espontâneos no primeiro trimestre.

  • Abaixo dos 35 anos: cerca de 15% de chance de um aborto espontâneo.
  • Entre 35 e 45 anos: cerca de 20 a 35% de chance de um aborto espontâneo.
  • Acima dos 45 anos: cerca de 50% de chance de um aborto espontâneo.

Esses números consideram apenas a idade da mulher, e não outros fatores pessoais.

Você sabia que a idade do homem também parece influenciar nas chances de uma perda gestacional? Pesquisas indicam que uma mulher de 35 anos que tenta engravidar com um homem de 40, tem até 3 vezes mais chances de ter um aborto espontâneo do que uma mulher que tente engravidar de um homem de 30 anos3.

Batimentos cardíacos do feto

Os batimentos cardíacos do feto dentro do útero podem ser um indicativo de que um aborto espontâneo está para acontecer. Conforme o bebê cresce, seus batimentos ficam mais rápidos, estabilizando em cerca 120 ou mais lá pela sétima semana.

É importante estar atenta e realizar o pré-natal para monitorar de perto os batimentos cardíacos do feto.

Batimentos cardíacos abaixo de 90 nas 6 primeiras semanas e abaixo de 110 entre a sexta e sétima semana são um grande sinal de que algo não vai bem com o bebê.

Fatores de risco

Existe uma diferença entre as causas do aborto espontâneo e os fatores de risco. Muitas vezes é difícil identificar a causa exata, mas analisar os fatores de risco pode oferecer uma pista sobre o que está acontecendo.

Algumas condições podem elevar as chances de uma gravidez ser interrompida antes da hora. Ao somar as chances normais com estes quadros modificadores pode aumentar muito a possibilidade de um aborto espontâneo. Conhecer estes fatores de risco é importante para saber o que pode ser feito para aumentar a possibilidade de uma gravidez e já ter consciência de sua condição:

  • Problemas em gestações anteriores: se a mulher já passou por outros problemas em gestações anteriores, principalmente outros abortos espontâneos, as chances aumentam. Se a mulher passou por diversas perdas, isso pode significar um problema congênito que deve ser investigado com auxílio médico. Após o diagnóstico, talvez seja necessário algum tratamento.
  • Engravidar depois de um período prolongado de infertilidade: é importante investigar as causas da infertilidade antes de continuar tentando engravidar. É possível que a mulher tenha vários abortos espontâneos sem nem saber que estava grávida, ou que o problema que causava a infertilidade ainda possa influenciar. Nesse caso, talvez também seja recomendado um tratamento.
  • Abortos espontâneos anteriores: relacionado ao fator anterior, múltiplos abortos espontâneos podem indicar que algo não vai bem. Se acontecer apenas uma vez, não há grandes consequências, um caso isolado é relativamente comum. Mas a partir de duas ocorrências anteriores, crescem as chances de que mais um aconteça e as causas devem ser investigadas.

Possíveis causas do aborto espontâneo

Embora nem sempre seja possível diagnosticar a causa exata do abortamento, alguns fatores podem contribuir para que ele aconteça. Além dos maus hábitos, como a ingestão de bebidas alcoólicas e uso de drogas e entorpecentes, uma gravidez também pode ser prejudicada por alguma infecção, doença autoimune, alterações uterinas ou hormonais, alterações no endométrio, baixo peso ou obesidade da gestante, diabetes não controlada, anomalias genéticas no próprio embrião eu até mesmo por exames pré-natais invasivos feitos de forma prejudicial.

Algumas vezes, porém, a causa da perda pode ser desconhecida até mesmo para os médicos.

Sintomas do aborto espontâneo

Quando um aborto espontâneo começa, infelizmente é impossível evitá-lo. Entre os principais e mais conhecidos sintomas de interrupção de uma gravidez está o sangramento vaginal. Mas também pode ocorrer uma forte dor abdominal, cólicas constantes, febre e calafrios, queda da pressão arterial e palpitação cardíaca.

Porém, o abortamento pode acorrer de forma silenciosa, sem nenhum sinal, principalmente se for antes de 20ª semana. Nesse caso, a verificação deverá ser feita através de uma ultrassonografia e o diagnóstico deverá ser dado por um médico.

É importante entender quais as chances reais de um abortamento acontecer, tanto para não se preocupar à toa como para tomar uma atitude caso algo não vá bem. Os números e estatísticas não devem te assustar. E para manter as esperanças, aqui vai uma última estatística: um estudo acompanhou 1000 mulheres que passaram por um aborto espontâneo. Entre as que tentaram engravidar dentro de 3 meses, 70% conseguiram alcançar uma gravidez. Não perca a esperança!

Para saber como Patricia lidou com sua própria perda gestacional, você pode ler este artigo.