Nos dias de hoje, a questão da fertilidade é vista de uma forma um pouco diferente do que era no passado. E não apenas porque o número de filhos que uma mulher tem ao longo da vida caiu drasticamente (no Brasil a taxa de fecundidade de acordo com o último Censo é de apenas 1,9 filho por mulher), mas também porque a idade com que uma mulher resolve ter filhos também está mudando.

Não são incomuns histórias de mulheres ganhando filhos cada vez mais velhas – uma busca rápida na internet você encontrará relatos de gestações após os 60 anos, e isso com certeza é algo a ser celebrado! Seja pelas possibilidades tecnológicas ou pelas mudanças sociais, essa é uma opção cada vez mais viável e, aos poucos, o que é entendido como “melhor idade para engravidar” vai ganhando novas definições.

Biologicamente, a melhor faixa etária para uma mulher ter um bebê é entre 20 e 29 anos. Isso porque nessa idade a fertilidade feminina está no ápice e o corpo está na melhor forma e capacidade para gerar uma criança. Por isso, os riscos de complicações na gestação e no parto são menores.

A reserva de óvulos vai diminuindo com o aumento da idade

Algo que também influencia bastante a definição da melhor idade para engravidar é a contagem dos óvulos. Diferente do que algumas pessoas possam pensar, nós não produzimos óvulos – toda mulher já nasce com uma reserva definida para a vida toda. Assim, ao longo dos meses e a cada ciclo, vamos liberando nossos óvulos que, quando não fecundados, são despojados através da menstruação.

Isso significa que, quanto mais envelhecemos, menos óvulos temos disponíveis, ou seja, quanto maior a idade, mais próxima está a mulher de chegar ao fim de sua reserva de óvulos. E é por isso que, do ponto de vista médico, após os 35 anos a gravidez já é considerada uma gravidez tardia.

Assim, o fato de muitas mulheres decidirem encarar a maternidade aos 30 ou aos 40 anos, apesar de não ter mais tanto impacto social, ainda tem um impacto do ponto de vista biológico. E isso sem levar em conta o estilo de vida, os hábitos alimentares e a saúde da mulher, que são fatores que também acabam influenciando no sucesso de uma gestação.

Pensando em como a idade afeta a fertilidade, o que então uma mulher pode fazer ao decidir engravidar fora da chamada idade fértil? Quais são as chances de sucesso e o que é possível fazer para aumentar essas chances? Nesse artigo vamos explorar os seguintes tópicos:

  1. Chances de engravidar aos 30 anos
  2. Chances de engravidar aos 40 anos
  3. Como investigar a reserva ovariana
  4. Ações para preservar a reserva ovariana

Chances de engravidar aos 30 anos

Após a idade adulta, a cada década o corpo da mulher sofre alterações significativas. A passagem dos 29 para os 30 anos representa um marco: é o início do declínio da vida fértil. Apesar disso, é apenas o começo – ou seja, não há grandes impactos nas chances de engravidar.

Em geral, até os 34 anos, e caso não haja nenhuma predisposição para uma gravidez de risco, a probabilidade de uma gravidez tranquila ainda é alta.

Após os 35, entretanto, a gravidez já é chamada de tardia ou 35+. Apesar disso, as estatísticas são surpreendentes: segundo um levantamento do IBGE, entre 2008 e 2018 houve uma queda no número de mulheres que tiveram filho com menos de 30 anos e um aumento no número de mulheres que se tornaram mães após essa idade.

Um estudo do Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SINASC) também mostrou que, em 2014, 12,2% das gestações foram tardias – um número que cresceu consideravelmente comparado com anos anteriores.

Entre as vantagens da gravidez tardia estão a maturidade e o equilíbrio financeiro. Muitos casais também tomam a decisão de adiar o aumento da família por preferirem gastar os primeiros anos focando na carreira. Um sonho dessa dimensão com certeza merece planejamento!

Mas isso não quer dizer que não existam riscos. Esse artigo, por exemplo, fala das complicações que existem em uma gravidez na faixa dos 35 anos. Entre as mais comuns podemos citar a pré-eclâmpsia, a diabetes gestacional, a hipertensão gestacional e a rotura prematura das membranas.

Chances de engravidar aos 40 anos

Após os 40 anos a história da fertilidade começa a mudar um pouco e os desafios de uma tentante nessa faixa etária começam já na fecundação. Agora, não apenas a quantidade dos óvulos já está bem reduzida, mas a qualidade desses óvulos também pode ser prejudicada. Por isso, além dos riscos que já citamos, há outros especificamente relacionados com a questão da qualidade dos óvulos. Os principais deles para a gestante são:

  • Diabetes gestacional
  • Hipertensão
  • Pré-eclâmpsia
  • Gravidez gemelar
  • Cesária

Para o bebê, justamente pela qualidade dos óvulos, podem surgir os seguintes quadros:

  • Síndrome de Down: as estatísticas indicam que, quanto mais velha for a mãe, maiores as chances de ter um filho com Síndrome de Down (1% aos 40 anos, 3% aos 45 e 10% aos 49). Isso porque, com o avançar da idade, o gameta feminino (ovócito) também envelhece, ficando mais suscetível a alterações genéticas e erros na divisão celular.
  • Problemas cardíacos: um estudo realizado no Canadá aponta que crianças nascidas de mães com mais de 35 anos têm mais risco de desenvolver problemas cardíacos na vida adulta. Isso acontece porque a idade do óvulo tem um papel importante no desenvolvimento do sistema vascular do feto.
  • Aborto espontâneo: justamente devido aos fatores de risco ligados à saúde da mãe (diabetes gestacional, pré-eclâmpsia), o risco de o corpo rejeitar o feto e a gravidez ser interrompida por um aborto espontâneo aumenta. E as estatísticas comprovam: a chance de um aborto aos 40 anos é de 25%, podendo chegar a 50% aos 44 anos.
  • Parto prematuro: também devido aos complicadores ligados à idade, há o risco de o parto acontecer antes das 37 semanas de gestação e de o desenvolvimento do bebê não estar completo. Por isso existe a probabilidade de a criança nascer com malformações ou outros problemas de saúde.

Apesar dos riscos, o número de gestações tardias tem aumentado com o passar dos anos

Uma gravidez na faixa dos 40 anos é, por si só, considerada de risco. Nessa idade, as chances de engravidar são de apenas 5%. Mas a probabilidade ainda existe e o fato de ser mais difícil não quer dizer que seja algo impossível.

Felizmente, com as possibilidades de fertilização in vitro, inseminação artificial, congelamento de óvulos e o aparecimento de produtos e métodos que auxiliam no processo de fecundação, pensar em encarar uma gestação tardia já não é algo tão assustador. E se você se identifica com esse quadro, talvez seja importante, antes de continuar tentando, fazer uma investigação sobre sua reserva ovariana para traçar um plano tendo total ciência de suas reais possibilidades.

Como investigar a reserva ovariana

Uma informação que é importante termos, e que nem todas sabem, é que é possível ter uma estimativa da nossa reserva ovariana. Talvez há alguns anos seria impossível pensar em obter essa informação, mas hoje não precisamos mais ficar no escuro, cruzando os dedos e torcendo para que ainda tenham óvulos saudáveis dentro de nós.

Ações para preservar a reserva ovariana

Logicamente, o sucesso de uma gestação não depende apenas do número de óvulos que uma mulher ainda tem. O estado de saúde da tentante influencia diretamente no desenvolvimento do feto. Por isso, é muito importante que a futura mãe se atente para o que ingere antes mesmo da fecundação e que trate seu corpo da melhor forma possível.

Cigarro, álcool e narcóticos são extremamente prejudiciais para a saúde ovariana, assim como várias outras substâncias químicas.

Em geral, sabemos que substâncias como ácido fólico, ferro, vitamina C, vitamina E, vitamina D, cálcio e zinco são bem importantes para manter um corpo saudável. Mas, além disso, a tentante deve adotar uma dieta variada e se atentar para a forma de preparo dos alimentos, evitando principalmente frituras.

Ela deve também diminuir o açúcar e o sal e evitar alimentos industrializados e com altos teores de sódio em sua composição. Também é importante ingerir bastante água e evitar o consumo de álcool, tabaco e outras substâncias químicas prejudiciais ao corpo.

O envelhecimento ovariano é um fato e exige, além de uma alimentação adequada, tratamentos objetivos. Hoje, há muitos métodos de concepção pensados especialmente para mulheres com a fertilidade em declínio e que podem ajudar a otimizar os resultados.

A alimentação possui um papel fundamental no sucesso da gravidez

Uma gravidez tardia já não é vista como milagre – talvez os cuidados sejam maiores, mas o avanço da medicina, o desenvolvimento de novas técnicas de fertilidade e a variedade de informações que temos hoje trazem um certa tranquilidade e aumentam nossa confiança.

A idade de fato tem um impacto e com o passar dos anos as chances de fecundação vão diminuindo gradativamente. Porém, mantendo uma alimentação adequada, monitorando sua reserva ovariana e escolhendo junto com seu médico o melhor método de reprodução, não há porque não embarcar na realização desse sonho.